12 setembro 2005
o gato de Zaratustra
Zaratustra tinha um gato.
Admirados!? Compreende-se, este facto numa foi tornado público e o próprio Nietzsche desconhecia-o em absoluto. Mas esta é a mais pura das verdades!
De onde tinha surgido o bichano? Bom, do sítio de onde vêm todos os gatos, da barriga da mãe gata através do orifício natural do corpo, né? Bom, o melhor é contar a estória desde o seu início.
Zaratustra subiu à montanha, onde passou longos anos a julgar pelo aspecto sujo, fedorento e andrajoso com que se apresentou quando dela regressou para trazer a boa nova, que transportava bem acondicionada dentro dum saco plástico para a proteger da chuva, no interior do seu alforge Louis Vuitton que uma águia lhe oferecera num momento de fraqueza. Sim, acontece a todas as águias. Sempre surge um dia na vida em que alguma sente a necessidade de abrir as garras e libertar-se de algo que a prende à luxúria.
Que quando subiu à montanha ia sozinho, não se fez acompanhar por ser nenhum, vivo, semi-vivo ou morto, sabemos com um rigor, podemos dizê-lo, matemático. Que quando voltou vinha acompanhado dum magnífico felídeo negro, sei-o eu e com uma profundíssima certeza.
Onde o arranjou? Tê-lo-á sido na montanha, per supuesto. À ida ou à vinda? Isso é um mistério. Foi ele que o chamou, ou o bicho aproximou-se de sua livre vontade? Mais um mistério. Queria, desejava Zaratustra, a companhia do animal para aplacar a sua solidão? Outro mistério ainda. Muitas questões ficam por resolver porque Zaratustra ele próprio manteve sempre o silêncio sobre o assunto e mudava de conversa quando o mesmo era abordado pelos curiosos que acorriam a ouvi-lo pregar, por vezes ficando mesmo irritadiço e começando a citar Nietzsche aos berros e a praguejar contra os homens de rebanho como um possesso.
A sua irritação foi tão grande um dia, que entrou no bordel da Ciete e pediu, exigiu, ser servido por uma puta, mas que tivesse bigode e estivesse cheia de sífilis, tal a sua admiração pelo poeta! Isto sempre com o gato atrás de si, que mirava curioso aqueles corpos debochados, rotos, e surrados, miava baixinho, parava, lambia as patas, içava a cauda e miava de novo. A bronca foi tão grande que chamaram a gnr e Zaratustra acabou, com o gato, a noite nos calabouços, sob a acusação de ser um intelectual anarco-sindicalista pré-existencialista pseudo-racionalista de tendências idealistas! Acontece que o sargento que o interrogara era gay...
Seja como for, a verdade é que o gato era muito afeiçoado a Zaratustra, amor em que era correspondido. Não era raro ver Zaratustra a vasculhar as prateleiras do Minipreço de Xabregas à procura de latas de ração para gatos. Das mais baratas, que a vida de profeta não é fácil. Que se saiba nunca nenhum enriqueceu a pregar verdades. O caminho da riqueza é o caminho da mentira, que o digam certos políticos... pois.
Ora o gato de Zaratustra tinha um hábito curioso. Deveras curioso, porque hábitos destes são mais vulgares nos cães, nos papagaios e nos carneiros, que nos felídeos. Gostava de rabiscar. É, ninguém sabia onde e como aprendera, mas era frequente vê-lo muito concentrado de esferográfica bic na pata e papel na frente a rabiscar durante tardes inteiras, com o sempre jack daniels no sempre copo ao seu lado, no sempre snack do barrio. Gatafunhos, diziam as más línguas. "Boas línguas, o que será isso?", pensava o gato, lembrando a rósea e doce língua duma gata que conhecera em tempos e que não via há uma eternidade. E gatafunhava, gatafunhava, furiosamente, enchendo o papel com estranhos hieróglifos duma língua que só ele conhecia.
Até um dia. HOJE. Um dia em que lhe foi dada a oportunidade de gatafunhar para quem conseguir subir até aos píncaros da sabedoria. Como o Gilgamesh, que quando perguntava "Onde está o homem capaz de subir até ao céu?" sabia do que falava. Oh, oh...
É isso que vai acontecer a partir deste momento neste espaço da blogosfera. Os gatafunhos do gato de Zaratustra aqui estarão. Com um objectivo que não precisarei de salientar ou explicar. As palavras dele gato falam por si.
Leia, na horizontal, na vertical, na diagonal, deitado, em pé, de cócoras, como lhe der mais jeito; babe-se; cuspa-se; lacrimeje; chore baba e ranho; sorria; ria; rebente-se às gargalhadas; faça manguitos; tire burriés do nariz; dê bufas; arrote; comente.
Mas... não fique indiferente, porque:
"NÃO É A DÚVIDA, MAS A CERTEZA QUE ENLOUQUECE" (Nietzsche)
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