31 outubro 2009

O Liceu de Oeiras no 'nós por cá'



Sob o título Sol ou sombra? Requalificação da Escola Secundária de Oeiras arranca todas as árvores, o programa nós por cá da SIC apresentou em 27-10-2009 a reportagem que efectuou referente ao abate de árvores no Liceu de Oeiras, assunto que abordámos em 28-09-2009
aqui, em 03-10-2009 aqui e em 17-10-2009 aqui.

Regressamos hoje ao tema para disponibilizar a quem não teve oportunidade de a ver, a mencionada reportagem do nós por cá:


fotografia: 19-02-1988 © josé antónio • comunicação visual

17 outubro 2009

Liceu de Oeiras - opinião duma leitora


Na sequência da nossa peça atentado terrorista de lesa-património natural e paisagístico, que em 30-09-2009 publicámos aqui, recebemos via email com pedido de publicação o seguinte texto:


Qualquer projecto de reabilitação urbana deve analisar os valores patrimoniais do objecto de intervenção, identificar os elementos que o caracterizam, que fazem parte da sua história e da sua identidade para os preservar e valorizar. O património natural de uma instituição não tem menos valor que o património construído. Um e outro, definem um todo, que contribui para a identidade da instituição e para a riqueza de uma região.


Qualquer projecto de reabilitação que não respeite isto é gratuito, é um projecto insensível que não respeita os utentes, nem a história do objecto a intervencionar, pelo que será sempre uma forma agressiva de intervenção. O espaço habitável não é propriedade do seu criador, nem do reabilitador, ele é público. Arrasar o existente, neste caso o património natural da antigo Liceu de Oeiras, hoje E. S. Sebastião e Silva de forma indiscriminada, para reconstruir novo, por decisão unilateral das forças do poder, além de ser uma atitude agressiva, abusiva, é um atentado ecológico sobre uma zona verde, com uma escala muito considerável, dada pelos anos e pela variedade das espécies de muitas árvores, a qual dava uma envolvência e uma climatização especial a quem fruia o seu espaço interior e exterior.


Qualquer razão que pretenda dar predominância a um determinado tipo de arborização, (vegetação mediterrânica, segundo informação obtida) será válida, mas essa opção teria sempre que respeitar os exemplares magníficos que faziam parte da identidade da Escola e que professores e funcionários ensinaram a preservar. A escola ensina, entre muitas coisas, a preservar o património, entendido este em sentido lato. A lição, que os alunos tirarão deste atentado ecológico, é que basta ter poder, para atentar contra o esse mesmo património.

Onde está a cidadania na atitude de arrasar a zona verde da Escola?


Por outro lado a sociedade portuguesa é e sempre foi multicultural, a própria fauna e a flora das várias regiões foi-se enriquecendo com a variedade de espécies que foram levadas de umas regiões, de onde eram naturais, para outras. Então porquê acabar com essa riqueza de exemplares de várias espécies do património natural da Escola, onde exactamente, por ser escola, a variedade de espécies deveria ser assumida como um atributo valorativo do património natural. Se a escola é multicultural, porquê uniformizar a vegetação com o sacríficio de várias espécies. A lição que o cidadão deve tirar deste abate das árvores, é que, para as forças do poder, uniformizar é um objectivo que justifica o crime ecológico, que feriu a identidade e o valor patrimonial da Escola.


Claro que, também não se pode deixar de pensar, que o abate, o corte, o transporte, a compra e a plantação de novas unidades é uma dinâmica que economicamente interessará a muitos. Mas recuso aceitar que o interesse económico prevaleça sobre o valor ecológico e o valor patrimonial da Escola.

Como cidadã e como professora, que fui da Sebastião e Silva, deixo aqui a minha indignação.

Helena Gonçalves


nota: As linhas brancas são da nossa responsabilidade para facilitar a leitura.


03 outubro 2009

Liceu de Oeiras - um comentário


Na caixa de comentários da peça intitulada "atentado terrorista de lesa-património natural e paisagístico" do blog Rememorar Oeiras, peça essa igual à que publicámos aqui abaixo, surgiu um comentário que poderá lançar alguma luz sobre este triste episódio do abate de árvores.


Leia aqui.


28 setembro 2009

atentado terrorista de lesa-património natural e paisagístico



Um sinistro 'atentado terrorista', de contornos quasi kafkianos, foi e continua a ser perpetrado por energúmenos - que outra coisa lhes poderei chamar?! - que se auto-denominam arquitectos e engenheiros na Escola Secundária Sebastião e Silva - o antigo e nosso mui estimado e amado Liceu de Oeiras!

Sim, esse, o das grandes e belas recordações da nossa adolescência. Das nossas ambições, dos nossos êxitos e fracassos, dos nossos sonhos, do nosso experimentar e testar as pessoas a vida e o mundo, dos nossos namoricos efémeros, da nossa vida enfim.



Inaugurado em 18 de Outubro de 1952, este estabelecimento de ensino, de grandes tradições, era até há poucos dias, um dos melhores exemplares da arquitectura de Estado Novo para esta tipologia de edifícios.


Ao longo dos seus 57 anos de existência, poucas ou nenhumas foram as alterações que lhe fizeram na traça original, pelo que qualquer estudante de arquitectura ou história o podia utilizar como modelo de arquitectura da mencionada tipologia.

A maioria das alterações passaram apenas por construção, efémera, de pré-fabricados e pequenos acrescentos nos pátios exteriores.


O triste e funesto drama que o Liceu de Oeiras está a viver conta-se em poucas palavras:

O Ministério da Educação decidiu - 2007 ou 2008 - promover obras de melhoramento no edifício, e avançou com um projecto de intervenção. Não foi questionada a justeza do mesmo, pois o edifício apresentava alguns aspectos de degradação interior, como humidade, e necessitava de intervenção para melhorar as condições de trabalho.

O projecto foi aprovado pela autarquia e as obras avançaram, cremos que em meados de Agosto último.


O que ninguém augurava é que a coberto dessa intervenção, que se pensava seria apenas no edifício em si mesmo, em particular e só no interior, se assistisse a uma intervenção também nos espaços exteriores, na envolvente paisagística, nomeadamente nos pátios, densamente arborizados com magníficos espécimes de árvores - amendoeiras e tílias, p.ex. -, também elas sem dúvida, além do edifício, património, pois estavam perfeitamente integradas na paisagem envolvente do edifício, sendo que muitas, não duvidamos, pelo seu porte seriam da data de construção do Liceu - 57 anos, recordemos. Ora acontece que diversas destas espécies foram abatidas, arrancadas, e outras têm o mesmo destino prometido. Fala-se em números que rondam os 130 exemplares de árvores arrancadas!!


Que os espaços exteriores pudessem ser alvo de alguns melhoramentos, aceita-se e compreende-se.

O que consideramos um verdadeiro acto de terrorismo é o corte daqueles belos e enormes exemplares de espécimes arbóreos, cada vez mais raros na nossa paisagem. Árvores perfeitamente integradas nos espaços a que pertenciam, e que proporcionavam abrigo nas suas copas a centenas de avezinhas que as procuravam, quer para construir ninhos, quer para se alimentarem de insectos, assim como abrigavam as pessoas da chuva, que as procuravam em chuvosos dias de Inverno, ou do sol inclemente nos dias quentes de Verão.


Ficam aqui algumas fotografias do Pátio da Amendoeira, antes e depois do atentado, onde se pode apreciar a profusão e diversidade de espécimes que existiam e desapareceram:



Mais fotografias podem ser vistas no Flickr:


- Fotografias do Liceu ANTES das obras, em várias datas: http://www.flickr.com/photos/42019201@N05/sets/72157622459745684/


- Fotografias do Liceu AGORA, após início das obras: http://www.flickr.com/photos/42019201@N05/sets/72157622336707297/


nota 1: Está a correr um abaixo-assinado (papel) sobre este tema.


nota 2: O programa "Nós por Cá" da SIC esteve na ESSS, após lhe ter sido feita uma denúncia, e aguarda-se que a reportagem seja exibida.


nota 3: Foi igualmente efectuado um contacto com a Quercus, aguardando-se desta uma resposta.


Sobre a história interessantíssima do vetusto Liceu Nacional de Oeiras, clique aqui.


Aceda também à Associação de Antigos Alunos e Amigos do Liceu Nacional de Oeiras / Escola Secundária Sebastião e Silva, aqui. Se lhe agradar e for do seu interesse, convidamo-lo a registar-se no site.


Não fiquemos indiferentes aos desmandos desta corja de tecnocratas despudorados e sem rumo que destroem o nosso património natural !!